Puxando um pouco pelos nossos neurónios é possível identificarmos uma série de palavras que vão entrando no léxico quotidiano, levando à sua banalização nas conversas do dia-a-dia. O stress é uma dessas palavras, adquirindo uma ubiquidade que o torna um dos temas na ordem do dia, atendendo aos tempos “troikados” em que vivemos. Quantos de nós não referimos, de forma automática e recorrente, que estamos “stressados”, que estamos cheios de “stress”, que não sabemos “onde isto vai parar” e, por outro lado, quantos de nós não sofrem os efeitos deste fenómeno? O contexto actual marcado por uma conjuntura socioeconómica caracterizada pela instabilidade, incerteza e dúvida, acaba por contribuir para essa “overdose” de stress que tanto nos preocupa, que tanto, quiçá, nos consome, quer nas palavras, quer na nossa vivência interior, podendo constituir-se como um factor prejudicial da nossa saúde.
O stress é comumente designado como uma reação que o nosso organismo e a nossa mente assumem quando confrontados com uma situação tida como difícil que ameace o seu equilíbrio interno. No fundo, o stress representa a relação que se estabelece entre a carga sentida pelo ser humano, fruto de uma pressão externa e a resposta física e psicológica que perante essa carga o sujeito desencadeia.
No geral, o stress surge quando o equilíbrio do organismo é quebrado, por percepção de uma ameaça, física ou psicológica, e perante a qual o individuo se sente impotente, ameaçado ou colocado em causa. Há, assim, uma forte influência dos nossos filtros cognitivos na vivência de algo como indutor de stress. Ou seja, a vivência de algo como stressante está dependente daquilo que interpretamos e da forma como avaliamos, por vezes de forma demasiado rápida, instintiva e automática, os nossos recursos (pessoais, emocionais, materiais, …) para lidarmos com aquilo que nos acontece ou pode acontecer. Quando a avaliação que realizamos leva a que sintamos que a magnitude dos acontecimentos supera a quantidade e qualidade dos recursos que possuímos, instala-se o stress, a sobrecarga, o desgaste, resultantes, por exemplo, da simples antecipação de uma situação desafiadora (um exame escolar, uma mudança de trabalho, o terminar de uma relação, uma situação de desemprego, …).
Os fenómenos de stress podem advir de fontes externas, quando provocado por situações indutoras externas ao indivíduo ou de fontes internas, quando induzido por agentes de stress que provêm do nosso interior (como, por exemplo, os pensamentos do indivíduo face aos eventos quotidianos, o seu modo de ver e lidar com o mundo e com os outros, os seus valores, as suas características pessoais, …).
O stress pode manifestar-se numa constelação de sintomas que abrangem aspectos físicos como, dores de cabeça ou cefaleias, sensações de vertigem, obstipação ou diarreia, taquicardias, dores e/ou contracções musculares, disfunções do sistema endócrino e hormonal, cansaço físico e psicológicos, como, irritabilidade, nervosismo, repentinas alterações de humor, impaciência e insatisfação pessoal, atitudes irascíveis, agressividade, abatimento e falta de incentivo, fadiga permanente, dificuldade na conciliação do sono e esgotamento, abuso de drogas ou álcool, que se continuados no tempo, precipitam o aparecimento de diversas doenças como, por exemplo, algumas perturbações do foro psicopatológico.
No Programa Regional de Prevenção e Controlo das Doenças Cérebro-Cardiovasculares, o stress excessivo é, entre outros, considerado um factor de risco individual para o desenvolvimento de doenças cardiovasculares, sendo que 16 a 22% das doenças cardiovasculares parecem estar relacionadas com o stress. Dados que comprovam a forma como o stress é, além de um desafio pessoal, uma questão importante no domínio da Saúde Pública.
Por outro lado, a nível laboral, e segundo dados recentes da Agência Europeia para a Segurança e Saúde no Trabalho, o stress laboral custa na União Europeia cerca de 20 mil milhões de euros em despesas de saúde, 28 % dos seus trabalhadores diz-se afectado pelo stress e 50 a 60% do absentismo laboral tem sido associado ao stress
As concepções erradas sobre o stress levam a que seja frequente vermos esquecido que nem todo o stress é prejudicial… De facto, há que perceber que existem dois tipos de stress, e diferenciar o eustress, aquele que nos leva à criatividade, à procura de uma forma de resolver as questões que nos apoquentam, e ao distress, aquele que nos leva a uma postura mais pessimista, derrotista e desgastante.
Assim sendo, há que perceber que o stress pode, assim, ser uma força de mobilização do ser humano, um catalisador, que nos põe em acção e que nos permite resolver situações complicadas. No entanto, noutras situações poderá levar a respostas inadequadas e à construção de uma ideia de vulnerabilidade e impotência perante as situações.
Não havendo soluções milagrosas para uma melhor gestão dos aspectos prejudiciais do stress existem, no entanto, algumas estratégias que se podem utilizar para diminuir a intensidade dos seus efeitos perversos:
·expresse os seus sentimentos assertivamente;
·tenha mais atenção aos pensamentos e interpretações realizadas, no sentido de não ficar “acorrentado” com as emoções;
·faça pausas com frequência nas situações mais stressantes, sempre que tal for possível;
·flexibilize “aqueles” pensamentos mais difíceis e procurar visões alternativas mais racionais e equilibradas;
·faça uma alimentação equilibrada e beba bastante água;
·reduza o consumo de cafeína, bebidas alcoólicas, açúcar e tabaco;
·mantenha uma higiene do sono, dormindo um número suficientes de horas;
·pratique desporto e/ou atividade física regular;
·apoie-se em fontes de suporte social (família, amigos,...);
·procure gerir o seu tempo de forma equilibrada, no sentido de prevenir situações ansiógenas.
Lidar com as exigências de um quotidiano imprevisível, em que a percepção de controlo sobre diversas variáveis da nossa vivência, é, realmente, um desafio de crescente complexidade. Está na forma como lidamos com ele, na forma como gerimos o bom e o mau stress, a chave para uma vivência mais plena e equilibrada e menos prejudicada pelos efeitos negativos do stress.
Estaremos condenados ao stress? Não. Estamos sim, condenados a confrontar-nos com acontecimentos, internos e/ou externos, que são potenciais fontes de stress; cabe-nos contudo, aprender a lidar com eles da melhor maneira possível!